Identidade em Winnicott
- Rogério Paulo
- 10 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de nov. de 2024

Em Donald Winnicott, a identidade é concebida como um processo de desenvolvimento vinculado ao ambiente e à relação com os cuidadores iniciais. Segundo ele, a formação do “self” ocorre em um ambiente seguro e acolhedor, um “ambiente suficientemente bom”, onde o indivíduo, desde o início da vida, é sustentado emocionalmente por uma figura cuidadora sensível às suas necessidades.
Winnicott introduz a distinção entre “verdadeiro self” e “falso self”. O “verdadeiro self” representa a expressão genuína dos desejos e potenciais do indivíduo, algo que só se desenvolve plenamente quando existe segurança emocional. Já o “falso self” surge como uma defesa, construído para atender expectativas externas e proteger o núcleo verdadeiro em ambientes hostis ou insuficientes. O "brincar" é central para o desenvolvimento da identidade, pois proporciona um espaço de criatividade e liberdade. É nesse “espaço potencial” entre realidade interna e externa que o indivíduo explora o mundo de forma autêntica e cria sua experiência, elementos fundamentais para a consolidação de uma identidade estável.
O processo de desenvolvimento da identidade também envolve a capacidade do indivíduo de suportar a solidão. Para existir plenamente, a criança deve ser capaz de ficar sozinha sem perder o sentido de conexão com o outro. Esse "estar só na presença de alguém" é um estado que fortalece a independência emocional e a sensação de continuidade do self, um pilar importante na estruturação de uma identidade que pode se manter autônoma e conectada consigo mesma.
A formação da identidade envolve também uma integração entre "elementos femininos" (ser) e elementos masculinos (fazer), os quais se manifestam em diferentes momentos e papéis do desenvolvimento emocional. O “ser” está associado ao lado feminino da identidade e representa a essência verdadeira do indivíduo, que se constrói inicialmente através do vínculo com o ambiente e com uma figura cuidadora, permitindo que a criança, ao ser acolhida e compreendida, experimente uma existência autêntica, livre para expressar suas necessidades e emoções.
Por outro lado, o elemento masculino, ou “fazer”, surge quando o indivíduo começa a se afirmar no mundo, explorando, interagindo e tomando iniciativas. Esse “fazer” é igualmente essencial e reflete a capacidade de agir no mundo de maneira autônoma, trazendo para fora o verdadeiro self que foi nutrido no ambiente acolhedor inicial. O fazer, portanto, representa o lado ativo e explorador da identidade, que emerge quando a base segura do “ser” foi consolidada. Esse aspecto permite que o indivíduo expresse suas potencialidades de forma criativa e produtiva, enfrentando desafios e construindo seu próprio espaço no mundo.
Em Winnicott, a identidade é o resultado da integração entre “ser” e “fazer”. Quando ambos os aspectos estão equilibrados, a pessoa é capaz de se conectar com sua essência e ao mesmo tempo agir de maneira autêntica no mundo, alinhando o que realmente é com o que realiza externamente, um indivíduo maduro onde o “fazer” exterioriza as qualidades e desejos mais profundos do “ser”.