Produtividade Masculina
- Rogério Paulo

- 18 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de nov. de 2024

A produtividade masculina é um conceito que necessita ser amplamente explorado no mundo contemporâneo, tendo em vista que nossa cultura frequentemente associa o valor do homem à sua capacidade de produzir, provar e alcançar resultados tangíveis.
Historicamente, uma identidade masculina foi moldada por expectativas sociais que enfatizam desempenho e sucesso, relegando questões emocionais e relacionais para um plano secundário. Contudo, essa visão pode gerar distorções profundas, tanto na percepção de que o homem tem de si mesmo quanto na forma como se relaciona com o corpo, espírito e mente. A produtividade, nesse contexto, muitas vezes transcende a mera realização de tarefas ou o cumprimento de metas profissionais. Para muitos homens, ser produtivo é resultado de se sentir útil, necessário e reconhecido. Esse imperativo pode ser, ao mesmo tempo, fonte de motivação e de aprisionamento. Embora o desejo de conquistar e contribuir possa estimular a autossuperação, ele também pode alimentar uma busca incessante por validação externa, levando à exaustão e a uma desconexão com o próprio ser.
Do ponto de vista psicanalítico, Donald Winnicott oferece insights valiosos sobre a relação entre produtividade e saúde emocional. Ele propõe que surja uma verdadeira produtividade de um indivíduo integrado, capaz de expressar sua criatividade de forma autêntica e espontânea. Nesse sentido, a produtividade saudável não é apenas um reflexo do fazer, mas do ser – de um homem que encontrou equilíbrio entre suas demandas internas e externas. Por outro lado, quando a produtividade se torna compulsiva, ela pode refletir uma tentativa de escapar de sentimentos de inadequação ou vazio. Muitos homens desenvolvem uma relação instrumental com suas atividades, vendendo-se como máquinas que existem apenas para "dar conta do recado". Essa postura não apenas compromete sua saúde mental e física, mas também prejudica suas relações, pois reforça a ideia de que o valor humano é avaliado exclusivamente pelo que se faz, e não pelo que se é.
No entanto, há um movimento crescente de ressignificação da produtividade masculina, impulsionado por abordagens que valorizam a dimensão espiritual e relacional do homem. Richard Rohr, por exemplo, convida os homens a revisitar suas motivações e a redefinir o que significa ser produtivo. Em sua visão, a produtividade madura não se baseia em acumular bens ou status, mas em cultivar uma presença transformadora, capaz de contribuir para a comunidade e nutrir vínculo.
Repensar a produtividade masculina exige coragem para questionar os paradigmas herdados e adotar uma perspectiva mais ampla e compassiva. Significa abraçar a ideia de que ser produtivo não é apenas gerar resultados, mas também investir em autoconhecimento, autocuidado e conexões autênticas. Quando os homens se libertam da pressão de produzir a qualquer custo, eles descobrem que sua verdadeira contribuição para o mundo está em sua capacidade de ser eles mesmos. Essa transformação não é apenas um benefício individual, mas um ato revolucionário em uma sociedade que muitas vezes confunde valor com utilidade. Ao se permitirem redefinir sua relação com a produtividade, os homens podem se reconectar com sua essência e, assim, oferecer ao mundo algo muito mais valioso do que realizações: uma presença humana e real.


