Masculinidade em Winnicott
- Rogério Paulo
- 10 de nov. de 2024
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Para Donald Winnicott, a masculinidade não é uma construção rígida ou um conjunto de características predeterminadas, mas um aspecto da identidade que se forma ao longo do desenvolvimento emocional e através da relação com o ambiente, especialmente com os cuidadores iniciais.
Ele observa que, para uma masculinidade saudável, é essencial que o indivíduo vivencie, em suas fases iniciais, um “ambiente suficientemente bom”, onde possa experimentar tanto o “ser” (feminino) quanto o “fazer” (masculino) de maneira equilibrada.
Winnicott destaca que o masculino não está isolado do feminino; ao contrário, a masculinidade plena só se desenvolve quando o indivíduo consegue integrar essas duas dimensões dentro de si. O “ser” representa o lado receptivo e acolhedor da identidade, que permite ao homem estar em contato com suas emoções, vulnerabilidades e o verdadeiro self. Esse lado receptivo é essencial para que ele se reconheça e experimente sua individualidade de maneira autêntica, evitando a construção de um “falso self” que atenda apenas a expectativas externas e estereótipos masculinos.
O “fazer”, por sua vez, representa o lado ativo e realizador, relacionado à capacidade de atuar no mundo, enfrentar desafios e tomar iniciativas. Na masculinidade saudável, o “fazer” não é imposto, mas surge naturalmente, como uma extensão do verdadeiro self, possibilitando que o homem expresse suas habilidades e potência de maneira genuína. Winnicott acredita que, quando a masculinidade é vivida sem um equilíbrio com o “ser”, ela pode se tornar rígida, defensiva e suscetível a comportamentos de conformidade e compensação, afastando o indivíduo de sua própria essência.
Para Winnicott, a masculinidade envolve também a capacidade de criar e manter um espaço seguro, tanto para si quanto para os outros. Ele menciona que, ao incorporar esses elementos de cuidado e presença, o homem amadurece e adquire uma capacidade de responsabilidade e de proteção, sem perder a capacidade de se relacionar emocionalmente com as pessoas ao seu redor. Esse processo permite que ele exerça sua masculinidade de forma cuidadosa e responsável, construindo um sentido de si próprio mais completo e menos dependente de aprovações externas.
Em última instância, a masculinidade em Winnicott não se define por força ou autoridade, mas pela maturidade emocional e pela habilidade de acolher e proteger. Ela implica em reconhecer tanto as forças quanto as vulnerabilidades e integrar essas partes como aspectos complementares.